domingo, 19 de maio de 2019

Encontros Intergeracionais

Encontros Intergeracionais

  
As famílias vêm passando por grandes transformações estruturais, as grandes famílias patriarcais abriram espaço para famílias pequenas e muitas dessas famílias são dirigidas por mulheres. Em muitos casos os filhos vão viver em cidades maiores em busca de emprego e deixam os pais em suas cidades natal. Quando os netos nascem os avós moram longe, e por isso as crianças não têm muito contato com os mais velhos.

Estas mudanças levaram a um distanciamento das famílias, e um afastamento entre idosos e crianças, avós e netos, principalmente quando há um entendimento na família de que o idoso não serve para mais nada (LIMA, 2007). Uma visão preconceituosa imposta pela sociedade e que dificulta a troca de experiências entre as gerações.

Durante a interação intergeracional os mais velhos podem recordar seus momentos de infância, trazendo à tona sentimentos e emoções guardados no inconsciente. Estes encontros proporcionam troca de saberes e de experiências. A criança tem a possibilidade mostrar para o idoso seus novos brinquedos, e por sua vez os mais velhos relembram e compartilham suas memórias dos brinquedos antigos com os pequenos.


Portanto, o convívio entre idosos e crianças leva a interação e conhecimento, as crianças conhecem através de relatos dos mais velhos as histórias sobre seu passado, seus territórios, cidades e do mundo. A quebra de preconceitos também se dá com a intergeracionalidade, através da relação e do convívio, da troca de afeto o preconceito colocado pela sociedade vai se dissipando. É possível existir diálogos, aos quais se possam discutir as dificuldades que cada geração enfrenta e pode-se dar sugestões para se solucionar estas dificuldades. (FRANÇA, SILVA e BARRETO; 2010)

Em meu trabalho no centro de acolhida especial para idosos observamos o quanto essa troca de afeto é importante para ambas as gerações. O projeto intergeracional com a Escola Estadual Victor Oliva já acontece há dois anos e as visitas acontecem uma vez por mês. Os idosos vão até a escola e interagem com uma sala por cerca de cinquenta minutos, depois a interação se dá no pátio e no refeitório, onde os mais velhos são sempre recebidos com muito carinho e atenção pelos mais novos.

Nestes encontros há troca de saberes, os idosos passam seus conhecimentos às crianças sobre os brinquedos e brincadeiras antigas, de como era a vida antigamente e as crianças falam para os idosos sobre os novos brinquedos, principalmente os eletrônicos, como vídeo games, tablets e celulares. Eles interagem de forma natural durante as brincadeiras, jogos e cantigas, possibilitando aos idosos recordar a infância. Criaram vínculos, o que possibilitou transformação individual e social para ambas as gerações.

Estas visitas reanimam os idosos, renovam suas energias que saem desses encontros com brilho nos olhos e felizes e aguardam ansiosos os próximos encontros. As crianças aprenderam a amar e a respeitar os idosos ‘fofinhos” como costumam falar.

Com base nessa experiência de sucesso com idosos em situação de vulnerabilidade social, hoje iniciei um novo projeto intergeracional com uma grande amiga, Vanessa Catto, Encontros Intergeracionais. Pretendemos reunir, crianças, jovens, adultos e idosos no Parque da Água Branca para interagirem e trocarem experiências. O primeiro encontro foi modesto com poucas crianças, alguns adultos e algumas idosas jovens que conversaram bastante enquanto tomaram um gostoso café da manhã em um piquenique coletivo. Daremos andamento a este projeto na busca de uma melhor qualidade de vida dos idosos que vivem a nossa volta, que são muito amados, se estendendo a todos aqueles que tiverem o desejo de compartilhar alguns momentos de alegria, interação e troca de afeto.


           
           

REFERENCIAS:
LIMA, Cristina Rodrigues. Programas intergeracionais: um estudo sobre as atividades que aproximam as diversas gerações. Dissertação de mestrado. Faculdade de educação, Programa de pós-graduação em gerontologia. Campinas, SP. 2007.
FRANÇA, Lucia Helena de Freitas Pinho;  SILVA,  Alcina Maria Testa Braz da e BARRETO,  Márcia Simão Linhares. Programas intergeracionais: quão relevantes eles podem ser para a sociedade brasileira?   REV. BRAS. GERIATR. GERONTOL., RIO DE JANEIRO, 2010; 13(3):519-531.




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