Virtudes da Velhice
Você
conhece a lenda de Bali, de Henri Nowen, teólogo e escritor?
“Conta-se que, numa aldeia longínqua
das montanhas, um povo costumava sacrificar um velho e comê-lo. Chegou o dia
que não sobrou mais nenhum velho para ser comido e as tradições se perderam.
Queriam construir uma bela casa para as reuniões de seu conselho, mas quando
viram os troncos que haviam sido cortados para esse fim, ninguém se atrevia a
tocá-los, pois ninguém sabia dizer quais troncos ficavam em cima e quais
ficavam em baixo. Se as vigas fossem colocadas erradas, aconteceria uma série
de fatalidades. Foi quando um jovem disse que poderia encontrar a solução, se
prometessem não mais comer homens velhos. Prometeram. Foi quando aquele jovem
trouxe seu avô que ele havia escondido por tanto tempo. E o velho ensinou a
comunidade como distinguir o que ficava em cima do que ficava em baixo”.
Na lenda o velho é
visto como um peso, por isso, é descartado, porém, descobrem a força, o valor
que tem o velho para a sociedade.
O envelhecimento é um processo pelo qual só não vai
passar aquele que morrer antes dessa fase da vida. Mas para aqueles que
chegarem a maturidade algumas virtudes devem ser desenvolvidas para se viver
uma vida plena e feliz.
Para o autor Alnselm Grun uma das virtudes do envelhecer
é aceitar, largar e ir além do si mesmo. É você poder aceitar e lidar com o
processo de envelhecimento, lidar com as perdas físicas e emocionais e assim
poder desenvolver seu conhecimento interior. Podendo se conhecer interiormente
conseguirá aceitar mais facilmente as adversidades vivenciadas, poderá entender
que na vida há momentos belos e momentos mais difíceis, mas que viver o amor em
todas essas fases fará a diferença, pois conseguirá entender e valorizar os
momentos conflituosos.
Grun entende que aqueles que não aceitam a si mesmo na
maturidade são aqueles que viveram uma vida de ilusão e não conseguiram viver a
realidade, ou seja, não viveram a plenitude da vida.
Viver remoendo o passado, se culpando pelo que fez ou
pelo que deixou de fazer é dar poder ao passado sobre você. É importante entender
que a escolha de dar poder ou não ao passado e permitir que ele continue influenciando
nossas vidas no presente é toda nossa. Cada um de nós temos o poder de escolha,
você pode se perdoar, perdoar o outro ou pode agradecer por aquilo que teve ou
vivenciou e lhe deu uma experiência, um conhecimento. Assim, você pode se
libertar do passado e estar livre para viver plenamente o presente e o futuro.
Libertar o passado para viver o presente também é uma virtude, não é um
processo fácil, mas necessário.
Para o autor deve-se agradecer todos os dias a
oportunidade de cada amanhecer, mesmo se não estiver bem de saúde, deve-se
agradecer a oportunidade de poder recordar o que viveu.
Aceitar o estar só é outra virtude citada por Grun.
Quando você está só consigo mesmo, pode sentir a serenidade e a tranquilidade
de estar em seu eu interior e poder trabalhar suas virtudes e defeitos.
Atualmente não só os mais velhos, mas os jovens também não conseguem viver só,
pois vivem fugindo de si mesmo, por não saberem lidar com suas angustias e
limitações.
O envelhecimento traz consigo as perdas e a necessidade de
aprender a lidar com elas. É um processo doloroso que requer a aceitação do
abandono, seja ele o abandono do familiar, do amigo, da saúde, da força física,
da profissão, das posses, da sexualidade, do poder, do ego e da vida.
Abandonar o ego significa abandonar o querer tudo pra si,
abandonar as máscaras e ir de encontro ao si mesmo.
Mais uma virtude é a serenidade e ela se dá quando se consegue
entender que não se pode mudar tudo, não se muda as pessoas, que cada um é como
é. A serenidade e a paciência andam de mãos dadas. Ter paciência é exercitar a
tolerância e o sossego de estar bem com si mesmo. A pessoa idosa tem muitas
limitações e muita dificuldade de aceitá-las e passam a ficar intolerantes com
os outros e principalmente com ela mesma, por isso devem exercitar a serenidade
e tolerância.
O idoso que chega a mansidão é aquele que integrou sua história
a si mesmo e entende que essa história o fez ser o que é. Não precisa condenar
ou julgar os outros e isso faz com que atraia as pessoas a sua volta. Diferente
daquele que a tudo e a todos julga e critica, afastando a todos.
Exercitar a liberdade é entender que não precisa se
orientar pelas expectativas dos outros e assim consegue chegar a felicidade,
pois permite a si ser quem é.
Ah o amor!! Chegar a velhice irradiando amor é para
aqueles que amam a si mesmo e compartilha esse amor com os que estão próximos. É um amor
que compreende e liberta, você pode ser quem você realmente é.
E quais dessas virtudes você já desenvolveu? Já
conseguiu se permitir conhecer o seu eu interior? Se não permitiu, está na hora
de se permitir viver uma vida plena e feliz. O que você está esperando para
viver e irradiar amor?
Você não precisa esperar chegar a velhice para conhecer a
si mesmo, e viver plenamente. Faça isso hoje, faça isso agora. Ame-se cada dia
mais e mais e seja feliz consigo mesmo. Sua felicidade não está nas mãos de
ninguém, a não ser na sua mesmo.
REFERENCIA:
Grun, Alselm. A sublime arte de envelhecer / Anselm Grun;
tradução de Edgar Orth. – Petrópolis, RJ: vozes,2008.
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