domingo, 24 de março de 2019

Virtudes da Velhice

Virtudes da Velhice


            Você conhece a lenda de Bali, de Henri Nowen, teólogo e escritor?

            “Conta-se que, numa aldeia longínqua das montanhas, um povo costumava sacrificar um velho e comê-lo. Chegou o dia que não sobrou mais nenhum velho para ser comido e as tradições se perderam. Queriam construir uma bela casa para as reuniões de seu conselho, mas quando viram os troncos que haviam sido cortados para esse fim, ninguém se atrevia a tocá-los, pois ninguém sabia dizer quais troncos ficavam em cima e quais ficavam em baixo. Se as vigas fossem colocadas erradas, aconteceria uma série de fatalidades. Foi quando um jovem disse que poderia encontrar a solução, se prometessem não mais comer homens velhos. Prometeram. Foi quando aquele jovem trouxe seu avô que ele havia escondido por tanto tempo. E o velho ensinou a comunidade como distinguir o que ficava em cima do que ficava em baixo”.

            Na lenda o velho é visto como um peso, por isso, é descartado, porém, descobrem a força, o valor que tem o velho para a sociedade.

Fonte imagem: https://br.pinterest.com/pin/542402348842856231/


            Antigamente os idosos eram valorizados e sempre consultados quando havia uma dúvida, pois eram vistos como mais experientes e sábios. Atualmente os mais velhos são desvalorizados e vistos como um peso para a família e a sociedade. Hoje o jovem tem valor em detrimento do velho.

            O envelhecimento é um processo pelo qual só não vai passar aquele que morrer antes dessa fase da vida. Mas para aqueles que chegarem a maturidade algumas virtudes devem ser desenvolvidas para se viver uma vida plena e feliz.

           Para o autor Alnselm Grun uma das virtudes do envelhecer é aceitar, largar e ir além do si mesmo. É você poder aceitar e lidar com o processo de envelhecimento, lidar com as perdas físicas e emocionais e assim poder desenvolver seu conhecimento interior. Podendo se conhecer interiormente conseguirá aceitar mais facilmente as adversidades vivenciadas, poderá entender que na vida há momentos belos e momentos mais difíceis, mas que viver o amor em todas essas fases fará a diferença, pois conseguirá entender e valorizar os momentos conflituosos.

           Grun entende que aqueles que não aceitam a si mesmo na maturidade são aqueles que viveram uma vida de ilusão e não conseguiram viver a realidade, ou seja, não viveram a plenitude da vida.

            Viver remoendo o passado, se culpando pelo que fez ou pelo que deixou de fazer é dar poder ao passado sobre você. É importante entender que a escolha de dar poder ou não ao passado e permitir que ele continue influenciando nossas vidas no presente é toda nossa. Cada um de nós temos o poder de escolha, você pode se perdoar, perdoar o outro ou pode agradecer por aquilo que teve ou vivenciou e lhe deu uma experiência, um conhecimento. Assim, você pode se libertar do passado e estar livre para viver plenamente o presente e o futuro. Libertar o passado para viver o presente também é uma virtude, não é um processo fácil, mas necessário.

            Para o autor deve-se agradecer todos os dias a oportunidade de cada amanhecer, mesmo se não estiver bem de saúde, deve-se agradecer a oportunidade de poder recordar o que viveu.

         Aceitar o estar só é outra virtude citada por Grun. Quando você está só consigo mesmo, pode sentir a serenidade e a tranquilidade de estar em seu eu interior e poder trabalhar suas virtudes e defeitos. Atualmente não só os mais velhos, mas os jovens também não conseguem viver só, pois vivem fugindo de si mesmo, por não saberem lidar com suas angustias e limitações.

           O envelhecimento traz consigo as perdas e a necessidade de aprender a lidar com elas. É um processo doloroso que requer a aceitação do abandono, seja ele o abandono do familiar, do amigo, da saúde, da força física, da profissão, das posses, da sexualidade, do poder, do ego e da vida.

            Abandonar o ego significa abandonar o querer tudo pra si, abandonar as máscaras e ir de encontro ao si mesmo.

            Mais uma virtude é a serenidade e ela se dá quando se consegue entender que não se pode mudar tudo, não se muda as pessoas, que cada um é como é. A serenidade e a paciência andam de mãos dadas. Ter paciência é exercitar a tolerância e o sossego de estar bem com si mesmo. A pessoa idosa tem muitas limitações e muita dificuldade de aceitá-las e passam a ficar intolerantes com os outros e principalmente com ela mesma, por isso devem exercitar a serenidade e tolerância.

         O idoso que chega a mansidão é aquele que integrou sua história a si mesmo e entende que essa história o fez ser o que é. Não precisa condenar ou julgar os outros e isso faz com que atraia as pessoas a sua volta. Diferente daquele que a tudo e a todos julga e critica, afastando a todos.

           Exercitar a liberdade é entender que não precisa se orientar pelas expectativas dos outros e assim consegue chegar a felicidade, pois permite a si ser quem é.

           Ah o amor!! Chegar a velhice irradiando amor é para aqueles que amam a si mesmo e compartilha esse amor com os que estão próximos. É um amor que compreende e liberta, você pode ser quem você realmente é.

         E quais dessas virtudes você já desenvolveu? Já conseguiu se permitir conhecer o seu eu interior? Se não permitiu, está na hora de se permitir viver uma vida plena e feliz. O que você está esperando para viver e irradiar amor?

       Você não precisa esperar chegar a velhice para conhecer a si mesmo, e viver plenamente. Faça isso hoje, faça isso agora. Ame-se cada dia mais e mais e seja feliz consigo mesmo. Sua felicidade não está nas mãos de ninguém, a não ser na sua mesmo.


REFERENCIA:



Grun, Alselm. A sublime arte de envelhecer / Anselm Grun; tradução de Edgar Orth. – Petrópolis, RJ: vozes,2008.

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